sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Prémios César-Editorianos Suspensos Indefinidamente

É este o primeiro encontrão? O primeiro ligeiro toque que desencadeia a linha de comandos do apocalipse? Não, dizemos nós agora. O Fim dos tão afamados Prémios, que granjearam duas edições, não espelha qualquer crise dentro da empresa. Simplesmente nos aborrecemos de olhar o mundo exterior e apontar sucessos e "sucessos". Também não estamos na defensiva. Sabemos que essa atitude parece transparecer nos nossos anúncios, comentários e providências cautelares, mas nem sempre é o caso. Este não é.
Que dizer agora dos PCE? Em tempos de outrora encarregaríamos André Lazarra ou o Gomes (Ah Gomes!) de encaminhar para este website luxuoso uma mensagem críptica e repleta de erros de ortografia com a qual preencheríamos o seu tempo e o nosso espaço internáutico. Mas agora, diante deste computador velho, às 2:14 da manhã, o Beco sangra aqueles sentimentos que o mantiam vivo também quando ninguém o habitava. Mas reiteramos assertiva e peremptoriamente: este pequeno percalço não significa uma crise alastrada e metastizada no corpo docente da nossa querida editora. Não. Argumentar dessa maneira seria recorrer àquela falácia esbelta que recorre a um, claro, recurso estilístico que visa descrever o todo a partir somente de uma parte.
Apenas estamos aborrecidos, muito, muito. Aliás, só escrevemos esta mensagem em razão do nosso aborrecimento. Geralmente descoramos o nosso dever informativo, aliás, odiamo-lo visceralmente setenta por cento das vezes, pelo que podeis averiguar somente a partir desta mensagem todo o nosso estado de enorme aborrecimento. Mas somente porque agora, sim agora, lo dissemos. É esta a direcção, de cima (muito acima) para baixo. Nunca ao contrário, pois ao contrário chegar-se-ia erradamente àquela conclusão da qual nos vimos distanciar com esta curta intervenção, que serve essencialmente de resposta a uma acusação que criámos para nós próprios, uma claríssima manifestação de receio, diríamos poradventura.
Se ainda lê, é porque ainda escrevemos. E se escrevemos é porque temos razão para o fazer. E talvez até uma necessidade premente que Rainer Maria Rilke louvaria com certeza. Mas quem és tu, oh escritor que de ti só li uma contracapa com letra muito grande?
Divagamos e, desse modo, dispersamos.
Tentaremos ser um pouco mais activos nesta plataforma que já conta com mais de quatro anos. No início pensávamos muitas vezes: Como será olhar estes escritos daqui por duas décadas, vinte anos? A tarefa da continuação deste projecto adensa-se com camadas de muita dificuldade e uma textura viscosa. Logo se vê.

César Editoras

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Um Cão Chamado Leopoldo

Ilações retiradas de um manuscrito hoje descoberto.

Eram 9 da manhã quando André Lazarra penetrava, a custo, no Beco do Julião pela sua porta enferrujada e pela primeira vez em dois meses e meio. Todos os funcionários se haviam esquecido da César Editoras. Lenocínio Baptista, advogado estagiário, prolongo de facto o seu estágio ainda vigente e não sabemos onde ele anda. Nunca soubemos. E o leitor, recorda-se daqueles tempos em que a nossa actividade cibernética era regular e a restante afastada das webs a mais sigilosa possível? No presente dia nem uma nem outra. Todos nos esquecemos da empresa, à guisa de um melhor pretexto para nos esquivarmos da labuta.
Como nos relata Lazarra numa letra fastidiosa, assim que ultrapassou as tábuas que barricavam o corredor que segue a porta principal do Beco, formando  uma porta improvisada, mas caída entretanto, descobriu que, por uma das muitas outras entradas ou fendas nas quais não existem barreiras físicas à entrada deveria ter entrado (ou imiscuído) um pequeno mas bruto cachorro. "Leopoldo?", pensou Lazarra (Lazarra, 2006). Ora, o nosso consultor linguístico e bandeireiro, servindo-se unicamente (i.e. de forma única) da sua memória eidética reconheceu o bicho de uma impressão A4 afixada num poste de electricidade na mesma rua que comporta a porta do Beco. E, como continua num jeito jocoso, contentou-se com o facto de os donos não terem chamado Leopoldo a um pastor belga. E haverem-no publicado de forma tão abrangente.
Pastor belga não era e Lazarra, que de cães não percebe nada (só de cadelas como diz desgastantemente), não conseguiu identificar a raça do cão. E no estado em que o encontrou teve dificuldade em compreender onde estava a sua frente, onde estava o seu detrás. A mesma dificuldade acontece apenas em animais que se valem dessa confusão para sua própria advantagem, como a manhosa cobra enrolada que, escondendo a sua cabeça nos muitos rolos que a encobrem, dificulta a missão daquele cuja opinião sobre esta ideia diverge muito no campo a priori e a posteriori.
Lazarra progride "No degredo do Beco se me avistei desse tal animal, relaxado jaz sobre uma massa castanha de frutos incertos, creio tratarem-se de fezes suas, ladeado portanto por um pacote outrora amarelado de biscoitos rançosos e um valente saco de seis quilogramas de umas pepitas brancas não similares a esferovite em razão do seu tamanho. O saco está entreaberto e rasgado".
O cão havia comido veneno para ratos, constata Lazarra catedraticamente. E na sua letra magoada infere-se alguma dor, especialmente quando escreve que "... um cão morto não é capaz de aprender lições valiosas. Enquanto morrerem assim não surgirão ocasiões pertinentes de aprendizagem. Seus donos os libertam nos zorraios da sua displiscência e quando o dia se alonga tarde e o cão comete o crime capital ausentam-se. Houvesse eu mais serodiamente partido de um negócio que não me compete detalhar, e me deparasse com o canedo deposto mas ainda ofegante, servir-me-ia do meu dedo para o admoestar e corrigir os seus actos e, se numa disposição menos assertiva me encontrasse, se o meu tempo posterior não fosse corrompido por demais negócios, talvez levasse o cão à morada indicada, tocasse à campainha e fugisse reclamando mais tarde a recompensa sem o conhecimento de seus donos, preterindo consequentemente a alternativa sobejamente menos onerosa de o balear com pregos naquele mesmo local".
Lazarra, um carácter interessante para uma "novela" dostoyevskyana na qual um ponto contra Ortega y Gasset poderia ser feito naquilo que incide sobre a natureza humana.

Adeus Leopoldo, adeus. Eterna saudade. Morto, conquanto encontrado. A César Editoras voltará aos poucos, consoante os momentos. Nem sempre é fácil viver, hein?


César Editoras

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Não Capitularemos

A justamente 5 dias do 7º aniversário da César Editoras recebemos a notícia da morte de Charles Manson, uma figura paradigmática do mais esotérico seguimento de culto.
Os falhanço da sua carreira musical não deve constituir qualquer surpresa, não só pelo facto de se ter imiscuído nele numa altura em que os grandes músicos eram verdadeiramente reconhecidos nos charts e não, como hoje, aqueles que agradam, como também pelo seu talento mediano. Contudo, admitimos, as suas músicas exibem um tom pacífico e sereno que não esperaríamos facilmente numa figura proeminente do crime organizado. É esta mesma surpresa que nos parece fortalecer o gosto pela sua arte, pois revela este lado aparentemente bondoso do singer/serial-killer e levanta questões interessantes sobre uma das principais figuras da cultura pop-americana do passado século. A César Editoras revê-se parcialmente em prospectiva na pessoa que hoje evitamos parecer honrar. Na verdade o homem tinha algumas qualidades interessantes, nomeadamente o seu gosto musical. Por outro lado esse gosto musical foi levado ao extremo e fundamentou-se num enorme racismo (note-se que a famosa teoria em redor do Helter Skelter foi baseada no White Album), que Manson gloriosamente eternizou na desconchavada suástica que imprimiu na testa.
Mas porque razão faz a César Editoras esta comparação? Tenha em conta que o seguinte não é uma ameaça.
Nos idos de vários meses já ultrapassados agimos sempre com as melhores intenções, ou seja, aquelas que melhor serviam os nossos interesses. Muitas vezes foram ignoradas, outras vezes descritas como fraude fiscal, mas desejamos apenas que se saiba que somos todos bons rapazes. Não recrutaríamos uma criança-soldado, por exemplo. Uma criança para soldar? Talvez, mas essa área é uma fina linha entre o muito engraçado e o estúpido e preferimos não correr risco. Divagações. Através deste espírito da promoção do bem comum, dentro dos trâmites da capacidade financeira da empresa e do uso justo da boa vontade, acreditamos ter agido regularmente em prol daqueles que se cruzaram no nosso caminho e daqueles a quem o barrámos obrigando-os a ouvir o que tínhamos por afirmar. Contudo este espírito nobre e humilde viu-se por várias vezes frustrado por opiniões contrárias às nossas e essas, sabemos bem, não estavam certas. Relembramos assim ao leitor que na César Editoras somos uma família, organizada por uma estrutura algo frágil e com muitas vigas atravessadas, mas uma família, contudo. E a cada ano que passa nos damos por mais capazes de sair à rua e espalhar a nossa boa vontade pelos 7 cantos de Lisboa. O seguinte aniversário marcará o sétimo ano de existência da empresa, um número chorudo, e não aceitaremos nada menos do que total aceitação da nossa profética boa vontade. Não capitularemos, nunca! Podemos perder. Mas levaremos o mundo connosco. Tudo num regime de boa fé, claro.


André Lazarra, Consultor Linguístico



quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Um Pedido Peculiar

É bem provável que nos últimos meses de veraneio todos os membros da César Editoras, inclua-se neles o fundador, se tenham esquecido da própria existência da empresa. Esse olvidar fundamenta-se em muitas razões que não iremos explorar em prol da manutenção da unidade, tantas vezes atingida por este mesmo acto que não pretendemos investigar.
E assim nos mantivemos até ao momento em que uma carta bem pomposa nos foi endereçada e colocada por baixo da porta de entrada do Beco, um acto meramente simbólico ou protocolar, uma vez  que a porta comporta muitas outras frinchas por onde a carta poderia mais facilmente ser intrometida. Adiante.
Através de uma panóplia de palavras extremamente graciosas perfeitamente encadeadas num discurso apaixonado e logicamente irrefutável fomos convidados a colaborar com um partido de enorme recente sucesso na Alemanha na sua filial de Munique, a AfD. O objectivo desta colaboração, que nos honra ao reconhecer o trabalho desenvolvido pela César Editoras ao longo dos últimos sete anos, centra-se na harmonização de ideologias e métodos, na prossecução de novas formas de cativar a sociedade para os problemas que a minam através de soluções eficazes facilmente apreensíveis.
O convite vem no seguimento de um fabuloso sucesso eleitoral sem precedentes conseguido no final do mês passado que merece ser utilizado como um primeiro impulso a novas conquistas que não se cingirão idealmente apenas à Alemanha. Foi com enorme prazer que fomos os escolhidos para desenvolver esta tarefa no país de onde somos oriundos. E é com uma medida igual de realização que aproveitamos este momento para atirar novamente areia grossa aos olhos do PNR, preferencialmente misturada com insultos graves e insinuações relativas à concepção de todo e cada membro, militante, apoiante e simpatizante. Vós sois o falhanço nas alternativas, uma alternativa a uma Lobotomia quanto muito.
Deste modo até ao princípio de Março estaremos estrangeirados em busca de novas e frescas ideias, às quais chegaremos também ao imiscuir as nossas no processo. De lá as traremos e as difundiremos de acordo com os expedientes acordados em assembleia. Regressaremos definitivamente revigorados e com novos fins em mente! Isso ou seremos ridicularizados pela nossa pequenez face a tantas instituições de peso. Em todo o caso haverá muita cerveja que, numa parca nota de curiosidade, se encontra disponível a um preço vertiginosamente baixo, podendo ser afundado continuamente se a lata consumida for devolvida ao eficiente e mesquinho sistema de reciclagem amplamente aceite no país que garante um retorno de 25 cêntimos, possibilitando que o preço de meio litro de cerveja de trigo desça aos 0,60 euros exactos. Enfim.

Lenocínio Baptista, Advogado Estagiário


quarta-feira, 19 de julho de 2017

Trissomia

Foi André Lazarra, do alto do seu pódio de autoridade, que afirmou não existir cura para a Trissomia 21, mas existir uma solução. A César Editoras já se opôs várias por vezes ao Síndrome de Down. Contudo essas posições foram constantemente tomadas por um ataque àqueles que comportam a doença. Na grave maioria dos casos os nossos comentários foram prontamente rotulados de "profundamente impertinentes", na companhia dos quais encontrámos sempre uma indagação referente à nossa autoridade em matérias clínicas e uma expectável reprimenda assente no nosso doloroso historial de discriminação. Diga-se, de passagem, que toda a nossa discriminação é positiva, uma vez que visa um fim positivo: o melhoramento da nossa Sociedade.
Com o interpretar do ora vagaroso ora célere andar dos anos vimo-nos sempre diante do mesmo obstáculo, o preconceito. No preciso momento em que se dirige a algo ou alguém, pela honrosa via do comentário ou a alternativa física onerosa, a César Editoras é sempre olhada por cima do ombro e as suas intenções escolhidas ainda antes de se ter pronunciado. Sendo rectos, não escondemos a assaz recorrência com que estas suposições encontram uma correspondência adequada. Mas o princípio, meus senhores, esse sim compreende o pecado original do qual todo o pensamento direccionado à editora radica . Não tentemos viabilizar o preconceito, que não se o olhe pela crescente lente do aceitável. Quão irónico se tornou, nos entretantos, qualquer acusação de preconceito. É verdade, confessamos, que o preconceito parece ser um método eficaz de análise da César Editoras. Mas o princípio! E veja-se como este não só mancha aqueles que tão mal adorna, como também prejudica desnecessariamente a empresa afectada. Pois como se pode desejar que a editora altere as suas danosas idiossincrasias, seus efeitos emanados em todas as direcções,  continuando em simultâneo perfidamente a incorrer no preconceito. Não se compreenderá o paradoxo, ou será este status quo apreendido e aceite, como forma de garantir um afastamento conjunto das investidas césar-editorianas? Porque como poderá a César Editoras pensar em alterar condutas quando todo e qualquer alento, bom ou mau, é recebido pelas mãos cerradas e o olhar amarelo do preconceito? O único intento parece-nos ser espetar mais um argueiro no olho do cão raivoso, encurralando-o junto do canto de tijolo, atiçando o ardente fogo em seus magníficos olhos que urde e exige liberdade, demonizando o bicho até que o desprezo para consigo mesmo seja a engrenagem única do seu movimento. E como procederá este cão raivoso, manchado de mange, rapidamente encontrando o caminho já aparentemente trilhado pela Chupacabra? Odiada pelo aldeão, que crê a todo o custo tê-la já avistado a comer o seu cordeirinho, tão belo e rechonchudo, esquecendo-se precisamente que o seu motivo em nada difere do pobre demónio por si mesmo congeminado. Esse cordeiro, pobre e mal tratado, de destino traçado desde o momento da criação, não é mais do que a alma do Homem, mas uma alma pura e livre da sapiência, aquela pronta para que lhe atirem areia aos olhos. E o aldeão, inconsciente a um nível preterível, não o compreende e, à medida que os seus pensamentos se tornam gradualmente mais confusos e equivocamente interligados, começa a ver no seu próprio rafeiro o culpado. O único culpado! Oh, pobre Labadeiro, velho e fiel. És agora o enviado da injustiça! Com quantas vergastadas se quebrará a tua lealdade, com quantas se estilhaçará o manto de confiante loucura  que cobre agora a vista rarefeita do nosso pobre aldeão, também ele uma vítima. Mas como escolher uma vida melhor, se nada dela sabemos. Quietinho no monte alcançou uma certa paz interior, mas na presença dos inexoráveis males acredita, com a ajuda do seu cajado treinado, haver sempre um culpado que não ele. Na acinzentada floresta de arcipreste se esconde, o pelintra. E quando não aparece, pergunte-se porque razão o faria, são aqueles de quem ele nunca desconfiaria que lhe armariam a cilada. Compraz-te nas tuas deambulações, oh velho pastor. Pois tudo o que te preenche neste momento em que a pacatez do campo é inteiramente substituída pela paranóia debilitante é o preconceito para com todo o ser que te rodeia. Te hás tornado numa besta também, a vítima do preconceito. E de que forma se liberta um homem acorrentado das suas amarras, senão com a ajuda daqueles que o vêem intrujado? E porque grita quando se aproximam? Porque esboça a branca espuma? Porque se recosta no seu canto atijolado? Porque razão se vê incapaz de se situar no espaço?


César Editoras



quinta-feira, 8 de junho de 2017

Julho - O Mês da Recuperação Económica

A questão à qual a César Editoras mais se esforça para negar resposta, aquela da qual mais se pretende distanciar, incide sobre os mecanismos que a permitem sobreviver financeiramente. Não é segredo que o lucro tem sido consistentemente inexistente, sendo que quando surge é irreversivelmente transformado num terrível investimento não planeado decorrente unicamente dos ditames das circunstâncias que, por sua vez, são o agregado das emoções mais disfuncionais e do grito mais alto. Assim funcionamos.
Contudo não queremos deixar ao leitor um total vazio de informação e hoje permitimo-lo espreitar, ainda que apenas um pouco, para os engenhos que ocasionalmente se revelam valerosos na procura do lucro. Estes engenhos variam consoante as necessidades e meios da Editora, por vezes produzindo resultados positivos e inesperados, por vezes o seu total contrário. Admitimos de quando em vez trazer ao presente com uma frequência punitiva instrumentos que outrora nos crucificaram sem misericórdia. Mas tais expedientes apenas constam das nossas práticas porque qualquer alternativa foi entretanto esgotada. A ilusão de uma tarefa em curso é necessária para dar algum sentido e conforto efémero aos nossos funcionários. Esta atitude quase sempre nos impede de perceber a situação corrente, um enorme buraco, o que nos faz escavar quase sempre um ainda maior.

Em Julho pretendemos, portanto, reestruturar, ainda que parcialmente apenas, as contas da empresa, tomando uma via moralmente dúbia mas possivelmente tremendamente eficaz.
Quando nos questionam sobre a escolha de Sede, em pleno e vibrante Campo de Ourique, respondemos com a coerência que os anos nos trouxeram ter sido na verdade o Beco a efectuar a escolha por nós ao exibir um estado de permanente degradação e abandono, criando desse modo o ambiente perfeito para a prática escondida das nossas variadas "facínorices". Seis anos e alguns outros meses passaram até à descoberta das vantagens da sua localização estratégica.
Campo de Ourique está, como afirma o estereótipo, repleto de senioridade, algo que aos nossos ouvidos soa a debilidade. Foi André Lazarra, industrioso e malévolo, nas suas divagações induzidas por químicos mal embalados, que nos apontou para a possibilidade de tirarmos todos um mês de férias não pagas, Julho, encarregando Lenocínio Baptista, aquele que dispõe de vida social no menor grau, de fingir ajudar idosas a atravessar calçadas enquanto remexe as suas várias possessões cobertas de tecido e cabedal (as carteiras). Tudo em nome do bem maior da empresa, mas também daqueles que nela trabalham, visto que o clima de antagonismo e perfídia dentro do Beco havia nas semanas anteriores atingido níveis nunca antes alcançados, como tão bem nos demonstrou o nosso departamento gráfico. E embora a ideia tivesse numa outra ocasião sido facilmente repudiada por todos e originado arremessos de cadeiras e seringas alheias, a singela prospectiva de férias e afastamento organizaram as várias vontades de quase todos os membros da César Editoras em torno de encarregar o nosso advogado estagiário da execução do plano e de ser aprovado o mais rapidamente possível e recorrendo minimamente aos morosos processos deliberativos.
Ora, ssim passar-se-á Julho, o mês da recuperação económica.

Se eventualmente apanhar Lenocínio com a boca na botija ou desejar intervir neste processo porque o considera "moralmente errado" saiba que este será imediatamente posto de parte e substituído por um possivelmente auto-destrutivo, como acima avançámos. Tenha pena de nós e das consequências que as nossas acções nos infligem. Se o confortar, acreditamos piamente que este é o plano capaz de trazer de volta a César Editoras ao auge da sua capacidade produtiva!

César Editoras


sexta-feira, 26 de maio de 2017

Explosão Controlada no Beco do Julião

Se na madrugada do dia 25 de Maio de 2017 acordou com um grave estrondo e conjecturou a hipótese de um Holocausto Nuclear ou uma Trovoada estarem em curso desengane-se. Tudo não passou de um controladíssimo rebentamento dentro das 2 paredes do Beco do Julião, que por mera coincidência se estravazou ligeiramente em várias direcções ultrapassando o telhado, prontamente remediado com alguma fita cola.
Sobre uma explosão em si sabia-se da sua inevitabilidade, não da data específica ou causa provável.
Há uns dias atrás a fossa que constitui o fiel depositário de todo o lixo fisiológico criado no Beco transbordou pela primeira vez desde que foi construída, ou visceralmente aberta, em Julho. Para efeitos de renovação delegámos a Lenocínio Baptista a função de atingir o seu lodoso chão com uma pá e  abrir novos espaços. O fundo não era visível, pelo que fomos forçados a cair deliberadamente no acto da perfídia, ao informá-lo de que a profundidade viscosa se situava bastante mais acima do que na verdade se situaria. Assim que entrou, de prego diga-se, esbracejou e o capacete de mota que usou contra o cheiro e imundície rapidamente se despediu de nós. Embasbacados olhámo-nos interrogando quem iria efectivamente mergulhar na poça. Eis se não quando André Lazarra é empurrado e informado que a única forma de ser salvo é salvando Lenocínio também. Em retrospectiva condenámos este acto, uma vez que Lazarra, como reitera mais que uma vez por dia, nada tem pelo que viver e, consideramos, deixar-se afogar em fezes na esperança de que o seu empregador fosse legalmente punido não lhe pareceria uma má forma de se despedir. Contudo a única coisa presa àquela cabeça no momento descrito era uma meia outrora branca e a instintiva vontade de sair do buraco onde havia sido introduzido. Rapidamente encontrou Lenocínio, agarrou-o com o braço envolto ao pescoço e por uma corda estrategicamente disponibilizada içaram-se os colegas. Foi traumático, particularmente quando na ausência de um duche nas nossas instalações se viram obrigados a esperar até às 4:30 da manhã para poderem sair incógnitos. Sentimo-nos obrigados a informar o leitor, que contudo não cremos ter grande apreço por qualquer duas vítimas, do bom estado de saúde dos nossos compinchas, já despachados de uma importante consulta médica.
Após o desastre coube ao único Homem de Mãos Cavadas, Viktor Khazyumov, enterrar-se até ao pescoço naquilo que acredita pertencer-lhe maioritariamente e escavar até não mais conseguir. Os problemas de absorção da nossa fossa foram imediatamente colocados a nu quando, numa pazada violenta que Khazyumhov nos informou tomar pela última, o esgoto começou a esvaziar e um complicado cheiro a gás preencheu a pequena divisão. Khazyumhov, fumando um charuto como forma de travar o cheirete, compreendeu ter aberto um portentoso cano de gás e teve tempo de pronunciar (mal) as primeiras sílabas da palavra "Arredem-se" antes de ser revolvido pelos ares conjuntamente com o telhado do nosso estimado Beco. Tajique como é, de gema e coração, foi com alguma jocosidade que mais tarde nos garantiu esta não ter sido nem a primeira nem a mais grave explosão relacionada com gás em que já esteve directamente envolvido. Chama-lhe a técnica do contra-fogo, em que pele queimada não o pode ser de novo. Como o Beco nunca dispôs de gás (se soubéssemos deste fornecimento já o teríamos tentado desviar mais cedo) alegrámo-nos por termos virilmente afastado as prospectivas de futuros salpicos desagradáveis.

Assim regressamos ao início. Esperamos a compreensão do leitor e desejamos uma noite descansada,


César Editoras

sábado, 20 de maio de 2017

Contra Os Pastorinhos

"Já vai tarde, mas que se lixe", André Lazarra (Texto planeado para dia 12 de Maio de 2017)

Lá vem ele no seu carro impermeável à crítica, rodeado daqueles que não o julgam, tal como não se julgam a si mesmos! E acenam, e o aceno é-lhes retribuído. A mais alta instância que retribui qualquer coisa. Diz-se próximo quando retira o vidro da sua frente, afirma estar protegido, mas esquece-se da última ocasião em que a mão invisível foi incapaz de desviar totalmente uma trajectória, tal como sempre é. E quem terá realmente "desviado" a bala? Seria o atirador assim tão certeiro?
Hoje, à medida que nos aproximamos de uma data literalmente incrível, não podemos senão maravilhar-nos à conta de um fenómeno que explica facilmente a natureza passiva e "ovelhosa" daqueles que vêem na ignorância e na sua associada ausência de vontade de efectuar um esforço o refúgio que moldará uma existência plena apenas na insuficiência.
Num ano algo conturbado umas crianças de pequeno porte comandavam, imaginamos supra-ineficazmente, um rebanho por entre os densos bosques e verdejantes lameiros portugueses. O seu trabalho árduo e longo que consistia no tratamento de animais irracionais e desobedientes requeria naturalmente um olhar constante e resultaria inevitavelmente na fadiga e na necessidade de a esbater, fosse na forma de um golo refrescante do cintilante ribeiro ou na forma de um encontro feliz com uns cogumelos saborosos. A tarefa que as crianças não conseguiram realizar com sucesso uma bela tarde, ora eram graúdos que mais!, foi identificar a distinção fundamental que afasta o míscaro de uma valente tontura. Conquanto mais não sabiam! E não adivinhariam como tamanho acontecimento iria influenciar de forma tão abrangente e total a vida de milhares de pessoas pelo mundo fora. Passado o tempo necessário ao brotar dos primeiros sintomas os pobres reuniram-se em torno de uma pequena azinheira num estado notoriamente alterado, pelo que todos os seus sentidos foram vítima de enfraquecimento. Outros dirão que este enfraquecimento é relativo, uma vez que apenas as capacidades de percepção e angariação de dados foram interceptadas e no seguimento da obstrução substituídas por momentos de enorme euforia e novas sensações impossibilitadas senão na posse das substâncias que as criam. Desta forma as alucinações auditivas e visuais típicas da ingestão de cogumelos errados produziram nos pastorinhos, pensando claro ter tomado a escolha gastronómica correcta, a ideia de ter falado com um ser transcendente. Veja-se que as quantidades ingeridas não foram suficientes para os retirar desta terra e transportá-los para o solo, mas tivesse sido o que não seria o dia de hoje? Neste ponto as clivagens relativas a esperanças acentuam-se pelo que o deixamos propositadamente subdesenvolvido, como os pastorinhos esfomeados. Caso se houvessem rendido ao solo o nome Fátima não suscitaria o que suscita, mas sim a pergunta "Quem é a Fátima?", e uma bonita estação rodoviária estaria ainda por edificar. Loca do Cabeço ou Loca da Cabeça?
O conto de fadas ganhou asas rapidamente e por certo o culto terá sido violenta e desonestamente incitado pelo Estado Novo. A mentira funda muitas coisas quando é credível. A componente ridícula de toda esta lenga-lenga assenta quer na religiosidade da população local, hesitante em tomar temas sérios por absurdos (devam-no à superstição e ao Senhor Pascal), quer no improvável desconhecimento da mesma de que as crianças mentem e muitas vezes fazem-no sem o saber, posto que nem a verdade conhecem ainda nem meios possuem para adoptar quaisquer comportamentos dignos face a um conjunto de factos. E hoje, devido unicamente à força tomada pelo movimento, a fonte de toda a história não é colocada no assento dos réus por aqueles que exercem um cargo de relevo nas estruturas eclesiásticas e são simultaneamente considerados homens de sabedoria e intelecto arguto.
Não é este o fenómeno social mais pernicioso? Como se suporta tão pesada falácia? Como não compreender que acreditar em algo para se acreditar em algo é um erro reprovável e um regresso à lama?
Assim hoje tomamos nas mãos o pesado fardo da vergonha dissimulada, consciente ou inconscientemente. E assim se perpétua uma tradição desenquadrada e totalmente afastada dos trâmites do bom senso. A Fé pode ser baseada em assuntos sérios e relatos históricos de algum relevo, esses discutem-se noutra altura, contudo não podendo de forma alguma assentar numa mentira inofensiva de três crianças em idade de não conhecer nada e na resultante vontade de sacralizar o acontecimento e assim justificar uma vontade de crença momentânea, servindo-se do carácter servil incutido aos pobres incautos cordeiros incapazes de formular qualquer pensamento próprio. Olham o sol de frente e crêem vê-lo mexer-se ignorando o óbvio facto de qualquer ordem nesse sentido provocará danos irreversíveis aos olhos, luzes ofuscantes que rebentam a vista e, claro, criam um movimento estranho nas córneas, das quais não passam. Pobres! Se seguem são destruídos, se quebram o seguimento encontram-se na impossibilidade de fazer frente ao Absurdo por não terem sido educados senão por oportunistas.

Habemus Ofendido.


César Editoras


domingo, 23 de abril de 2017

As Presidenciais Francesas

São muitos os imigrantes e cidadãos luso-descendentes que visitam a nossa pagina oficial mensalmente em busca de respostas que há muito deixámos de oferecer. A nossa relação com a França tem sido uma de alguma distância, em parte porque os custos de uma viagem ao país arruinar-nos-iam, em parte também porque aqueles que nos são mais próximos não são verdadeiramente franceses, mas portugueses imigrados.
O imigrante em França é ainda hoje visto de forma funcional, um resultado do preocupante nariz empinado que duas guerras mundiais não conseguiram vergar. Até ao momento em que deixa de ser útil ao seu mestre os seus esforços são muito bem-vindos. A partir do momento em que essa utilidade é perdida as ameaças xenófobas inevitavelmente recaem sobre os seus ombros. E mantêm-se e perduram mesmo quando estes indivíduos adquiriram já, legalmente, a cidadania francesa. Para compreender o sentimento nacional francês é necessário olhar para o futebol e depois para a política/sociedade. Ninguém observa nenhum preconceito (talvez à excepção daqueles oriundos dos seus adversários) quando a selecção francesa joga com nove, dez ou onze jogadores das suas antigas colónias, uma vez que essa é a chave para o sucesso. A França beneficia do seu passado colonial, mas assim que olhamos para os candidatos oficiais das Presidenciais Francesas reparamos que não há nenhum facilmente identificável, erroneamente ou não, como descendente de emigrantes. Demasiada homogeneidade numa sociedade bastante clivada levanta suspeitas, principalmente quando parte substancial da essência da política é, afinal, a representação. O que significaria para um candidato ser de etnia diferente ou, diga-se, da religião muçulmana? Discutivelmente uma desvantagem.
O que seria um francês ser comandado por um estrangeiro? (já aconteceu e, calculamos, acontecerá de novo nem que demore um milhar de anos). Assim que, independentemente das competências, a questão é a submissão (embora lhe preste um serviço, na verdade) e não a delegação ou a execução de um trabalho que traga ao francês e à França orgulho, o franciú bate o pé. Orgulho de facto é tudo o que resta ao pobre povo. Até a sua língua morta serve hoje apenas para falar com povos de países que desprezam! Mas dela se orgulham, enquanto símbolo de um refinamento que não tomam por decadente.

Poder-se-á alegar que o retrato feito ao francês nesta curta incursão poderá parecer exagerado, ou generalizado ao ponto do excesso, mas apontamos ao francês que tanto se preocupa com a identidade pura da sua espécie: aqui está ele!

Em último lugar falta, está certo, a tomada de posição César-Editoriana. Com que candidato mais se identifica? Quem mais protege os interesses da empresa?
Desta vez estamos por quem ganhar, excepto o Lazarra que apoia a Le Pen fervorosamente e Jopaquim Orduras que pensa imigrar para o país caso vença Benoit Hamon.


César Editoras  

domingo, 19 de março de 2017

O Que É O Pensamento Suicida?

Parte fundamental da experiência humana é o seu confronto inevitável com a morte. Com efeito, a vida é o único real contacto que com ela travamos, pois esse estado não é um estado de nós mesmos, mas sim algo que já não nos pertence. Somos passado e ultrapassados. Várias vezes ao longo dos anos nos deparamos com maior ou menor intensidade com O Facto Inegável. E cada um reage à sua maneira, tal como escolhe defender-se da forma que pretende.
O excepcional músico e poeta Tom Waits disse com razão, antes do lançamento do seu brilhante álbum "Bone Machine" de 92, que todo o Homem pensa no suicídio. Mas existe uma importantíssima distinção que merece ser feita, seja lá qual for o efeito que produz.
Nos tempos que correm, em que o Homem nasce num belíssimo sistema de objectivos e expectativas a que chamamos uma Sociedade livre, é normal que existam frequentemente desilusões e depressões. No entanto, existe também uma esquisita cultura criada em redor da imagem do jovem deprimido, do artista afectado, do "outkast" que transmite à juventude uma certa ideia de estilo. É perigoso, porque seguindo esses caminhos o destino final será sempre o ridículo desonroso. E, tal como nos tempos anteriores ao sucesso do verdadeiro artista afectado, é muito provável que ninguém ligue. É uma pseudo-tentativa de dizer "olhem para mim, sou um coitado misterioso". Acontece de facto com aqueles que, muito infelizmente, são vítimas de depreciações na escola. Também com aqueles que simplesmente vêem nesta imagem uma interessante escolha que não é realmente uma. E com outros casos-tipo inumeráveis.
Realce-se a distinção!
A diferença fundamental reside naquilo que realmente está em foco. Quando uma pessoa ordinária pensa no que seria retirar todo o conteúdo (e possivelmente parte da forma) à sua vida, pensa-se efectivamente no tempo posterior à sua morte. É um exercício intelectual interessante pensar como reagiria cada pessoa. O que se deixaria escrito que em vida a coragem não encontrou palavras para dizer? É essencialmente um pensamento capaz de nos situar socialmente. E não é nada mais nada menos isso que um "jovem deprimido" pretende ao desenvolver pensamentos suicidas, sobrevalorizar o seu real valor. Fantasiar que todos os seus conhecidos e desconhecidos ficariam extremamente tristes quando na verdade, caro Matias, ninguém ficaria nem choroso ou chocado à excepção daqueles que te são mais próximos. Na tua escola diriam, eventualmente, "que estúpido, foi-se matar. O Matias era mesmo estranho". O que o Matias não fez, aquilo que é verdadeiramente relevante num exímio pensamento suicida, foi focar-se na sua vida e na necessidade de a terminar. Uns centram a sua atenção no pós-vida, outros centram a sua atenção na sua vida actual. E esses últimos são aqueles que naturalmente "não querem saber". Já nada do que os segue lhes interessa, nada vale a pena ser pensado, nada os travará na sua decisão. Está tomada e não é uma chamada de atenção. Aquilo que os move não é uma vontade de se relevar, mas apenas de terminar este seu sofrimento. Não é um interesse egocêntrico como os outros, mas um interesse que o abrange o indivíduo apenas.
O foco no tempo. Esta é a diferença fundamental entre um pensamento suicida e um exercício intelectual interessante que pode ser esticado para onde não deve.

(Note-se que esta aproximação a uma distinção é talvez demasiado incompleta, genérica e abstracta, pelo que certos tipos de casos concretos como a auto imolação em protesto merecem uma análise igualmente específica).

Abraço,

César Editoras


quinta-feira, 9 de março de 2017

Uma Experiência Curiosa

Perguntar a um rapaz de 10 anos se é Católico, como nos indicou Richard Dawkins, fará tanto sentido como questioná-lo sobre as suas preferências políticas. Contudo, para uma maioria desapontante, as coisas não se processam desta forma. Na tenra idade em que esta criança se encontra assumir que já possui uma consciência religiosa não difere muito da busca de uma no âmbito político, pois neste período da sua vida não podemos simplesmente acreditar que esta esquisita prospectiva de vida consegue compreender realmente o que é Deus e muito menos a religião associada, tal como não conseguiria possivelmente decifrar o programa político de um qualquer partido. Não falamos do PNR, esse ainda se encontra de facto por decifrar. E talvez seja mais fácil aderir a uma religião do que a um movimento político na medida em que compreender as suas bases e ideais basilares requer menos trabalho sendo, ainda assim, bastante mais complicado realmente compreendê-la em todas as suas contradições e, chamemos-lhe, fezadas do que a questão comparada. Como podemos então ter tantas certezas gratuitas sobre a consciência religiosa desta criança e considerar ridícula a sua determinação política? Como terá este menino tomado um passo tão fundamental numa das mais, senão a mais importante questão na vida humana?
De novo retomando Dawkins, é preponderante compreender um aspecto: Não existem crianças católicas ou muçulmanas, apenas filhos de pais católicos ou muçulmanos. É na sua essência um dilema, aquele que qualquer casal deveria enfrentar no momento em que decide instruir ou doutrinar o seu filho. Por um lado temos as suas crenças, por outro compreendem que se esta criatura tivesse nascido no Irão seria ensinada algo totalmente diferente e, dependente como é, comeria tudo sem deixar nada. Claro que a vasta maioria toma a saída simples e opta por educar o seu filho de acordo com a primeira escolha. Mas uma educação pressupõe a criação de um certo espírito crítico, sob pena de nos tornarmos escravos dos nossos professores. Daqui iniciamos o nosso relevante exercício hipotético que, como veremos, é nobre, mas de difícil concretização.

Aquilo que é proposto, outrossim, é uma reflexão sobre os efeitos que esta ideia realmente causaria, sem uma imediata condenação.
Assumindo que seria quase certo que uma criança nascida no Irão tornar-se-ia muçulmana e em Portugal católica, fosse ela enveredar por uma religião, perguntamos que direito têm os pais de escolher esta direcção? A pobre criança, isto é, personalidade, estaria "susceptível" a qualquer uma das crenças e a todas as outras restantes, dependendo do aleatório local onde nasceria. Como tornar a sua decisão algo intrinsecamente seu e, igualmente, uma opção consciente e ponderada? Como poderiam os pais alegar que aquela personalidade se sentiria mais confortável enquanto católica do que muçulmana, judia ou eventualmente budista? Será que os pais conhecem de facto estas religiões tão bem como a sua? Ora, esse é o conhecimentos fundamental na educação da criança, que lhe permitirá atingir uma posição verdadeiramente sua, o conhecimento das várias crenças existentes.

Se o nosso sistema de ensino, permitindo-o também a mentalidade dos pais, verdadeiramente respeitasse a maturidade e maturação do ser que cresce, esperaria mais uns tempos antes de abordar a Religião e Religiões. Ou não o faria sequer, pois ambos estes modos iriam ao encontro da justiça e da imparcialidade E como pode ele, tal como os pais da criança, impingir-lhe crenças como conhecimentos verdadeiros? Que tipo de educação é essa?
Assim a César Editoras acha correcto que o primeiro contacto de uma criança não seja com uma Religião, mas com todas as Religiões e as posições que as contrapõem, podendo ela eventualmente seguir qualquer uma delas mais tarde dentro do meio apropriado. E, certamente, encontrámos a principal barreira prática desta nossa hipótese. Não há uma forma fácil ou justa de impedir um pai de passar ao seu filho as suas crenças religiosas. Apenas através de uma alteração de mentalidade seria isso possível. Em razão desta dificuldade apelamos ao sentido de rectidão e justiça destes pais protectores, que encontrarão razoabilidade na ideias dos diferentes caminhos que a sua criança seguiria fosse ela nascer num país muçulmano ou predominantemente budista ou hindu. Daí o nosso problema ser meramente um exercício mental que coloca a Religião e o ensino desta numa posição desconfortável.
Sendo mais velha e madura a criança olharia a Religião com um olhar mais céptico e atento, seguiria talvez um pensamento mais racional e, caso optasse por uma das variadas fés sem coerções ou pressões, saberíamos ser essa a sua verdadeira opção. Será bastante provável que não faça uma escolha imediata e que a arrede para um futuro mais esclarecido. Será igualmente provável que escolha aquela que o meio oferecido pelo seu país mais favorece, em termos de valores e afins. E será bastante provável que siga os mais lógicos agnosticismo e ateísmo ficando, ao mesmo tempo, com um conhecimento certamente mais vasto sobre as várias religiões que poderá aplicar no decurso das suas vidas. E poderá ainda conhecer melhor a sua Religião e o seu Deus, pois estes não lhe foram incutidos como dogmas inquestionáveis na esponjosa infância.
Através destes passos chegaríamos, contudo, a uma esquisita conclusão: A Fé destes jovens seria, no início certamente e talvez "no fim", particularmente mais fraca e menos sentida. Ah, a Fé! Condição fundamental de qualquer crença religiosa. Quem terá maior capacidade para a incutir? Um pai na infância ou um estudo da própria num estabelecimento de ensino que não a vomita distorcendo-a? Talvez após este contacto menos parcial a criança escolha efectivamente uma orientação, nem que seja apenas pela curiosidade ou necessidade de maior esclarecimento no seio das instituições que a ensinam de forma mais chegada, como a Catequese. Com preparação e noções relevantes a cabeça da criança estaria muito mais disposta a questionar as fábulas e a sua fé seria mais sólida se verdadeira.
A questão da Fé é talvez a mais complicada, porque qualquer crente vê na infância um momento fundamental do contacto com ela, ou seja, um momento de doutrinação. É um interessante paradoxo que indica a saudável existência de dúvidas e talvez a necessidade de justificação através de um seguimento, de uma continuação assegurada. Mas o que deve um praticante temer? A verdade? Ou seja, o conhecimento da diversidade de Religiões e posições opostas? Se o seu Deus existe, a fé existe. Estará espalhada por todos, embora sejam milhões os seres por si criados que não o tomam por criador. Se o seu Deus existe e os criou, a ausência de fé é uma criação sua, pelo que os pais nada a temer têm. O plano do Sumo Pai encontra-se já definido. Duvidais do vosso criador?


César Editoras


terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Intrometimentos

Esta bela semana Lenocínio Baptista, no preciso momento em que se fazia à porta do Beco do Julião, foi admoestado por uns comentários que o injuriaram. "Chamaram-me franganote!", disse-nos. Mas mal se havia apercebido que os comentários eram aliás dirigidos ao pobre rapaz que o ultrapassara passavam uns meros segundos. Por Lenocínio, vítima de maus tratos na sua adolescência conturbada às mãos dos seus populares colegas, que lutava com a fechadura, passaram dois gandulos desejosos de despejar no pobre franganote as mágoas das suas desilusões. Agarraram-no pelo colarinho de uma vestimenta insuficiente, encostaram-no à suja parede e sacudiram-no em busca do dinheiro que nas suas mãos daria para um parco pão. A pernícia e a crueldade não lhes fora incutida nas suas miseráveis infâncias e partindo desse princípio séries de conjecturas foram formuladas na fraca gnose de Lenocínio, manchada pelas memórias do seu errante crescimento e pela fúria que um cidadão exemplar sentiria face à sua impotência. Lenocínio, portanto, já não investia a chave na solta fechadura, mas olhava com desagrado e mal-estar as iniquidades desta nova vaga de seres que o ultrapassariam na simples (em Teoria), mas tornada complicada pela Sociedade (na prática), tarefa de viver. "Facínoras!" gritou indiscriminadamente em direcção à injustiça! Mas foi precisa uma repetição mais convicta para alertar os gaiatos para a presença de uma reles autoridade moral, se é que uma autoridade moral é algo que de facto existe e não meramente aceite. A sua idade adulta talvez os afastasse da prossecução dos seus vis fins. Porventura a vergonha faria suas mãos retirarem-se do colarinho alargado do pobre vitimado. A essência das suas acções fora posta em causa, contudo! E Lenocínio imediatamente se arrependia, assim que encontrava nos olhares desafiantes dos jovens os mesmos que uma década antes antecipariam a sua indevida colocação numa retrete pública. Por segundos que, dependendo claro do agente, se prolongavam mal educadamente, ambos os pequenos seres confrontaram o nosso advogado estagiário, possivelmente em busca de uma nova investida ou de um pedido de desculpas sincero. Nada conseguiram, porquanto Lenocínio não se permitia mover nem um milímetro, não fosse a sua acção turbulenta provocar nos animais reacções explosivas. Há dias, contou-nos Lenocínio na deferente posição de único membro da César Editoras associado à rede social Whatsapp, recebeu um vídeo avassalador de um pobre ser caído em desgraça no que parecia uma reserva natural em África. O seu destino traçado por uma manada de 5 Tigres. Deste modo, numa possível crise existencial, sentia a necessidade de se manter afastado da sociedade durante uns tempos para pôr os seus pensamentos em ordem antes de a ela regressar. Quanta iniquidade o mundo presencia diariamente. Aqueles que num instante fulminante a presenciam, a contragosto, compreendem a bolha que habitam e tais descobertas apenas contribuem para o seu já crescente estado de ansiedade, proporcionalmente directo à sua maturação. Avante. Assim que Lenocínio acordou das suas divagações ocasionais, sobre a sua infância, sobre as derradeiras finalidades de seu dia, sobre os tremores sentidos naquilo que imaginava ser o seu fígado, reparou na progressão feita pelos dois mafarricos que agora diante de si se posicionavam, de modo a encurralá-lo contra a fraca porta do Beco. Lenocínio, já afastado da sua adolescência pelo passar do tempo, que conhecia o pior das vitimizações físicas e psicológicas na primeira pessoa, deduziu que a situação não poderia alguma vez caminhar para terreno mais árido. Eis se não quando, no seio dos transeuntes que mais se apressavam quanto mais perto se abeiravam da infeliz cena aparece  Bruna, produzindo o derradeiro efeito nas intenções dos mafiosos, agora entrelaçadas. Ou seja, por um lado as questões de orgulho, por outro a necessidade imutável e permanente de promover a já existente promiscuidade, ferramenta indispensável ao empoderamento da mulher. Agradais tão simplesmente e não sedes vós nem o que deveríeis ser, posto que tanto manterdes vossa inaceitável conduta como cometeis tramas quebrantes da confiança fundamental à edificação de uma Sociedade.
Que rumos trilharia esta situação? De que forma inequívoca seria Lenocínio de novo assinalado? Quais os motivos que o justificariam? Tais perguntas são feitas apenas porque o confronto não mais se prolongou, pois se assim tivesse sido Lenocínio não estaria jamais vivo ou recusar-se-ia contar-nos as humilhantes mazelas que dois graves adolescentes lhe haveriam cometido. Na verdade a sua sorte, como tantas vezes acontece em contos de índole popular, foi Viktor Khazyumhov (ou o Mujique, como ofensivamente lhe chamamos há umas semanas) ter aparecido à porta ao ter sido acordado pela irrequieta chave na porta. A sua bebedeira era ainda totalmente perceptível nas suas acentuada rugas. Talvez se tivesse deitado uma hora atrás. Talvez não devesse usar a nossa antiga casa de banho para produzir barricas de etanol. Enfim, na repentina presença de um portentoso, alto e mal amanhado homem de 60 e muitos anos que na sua mão esquerda empunhava uma garrafa agora partida os gandulos escolheram seguir caminho montados na famosa bicicleta da aldeia em detrimento das suas gloriosas pretensões.
Vasculhando a sua carteira Lenocínio encontrou a chave certa e desculpou-se ao experiente tajique que saindo pela porta por onde o advogado estagiário entrava lhe deu um descuidado calduço na nuca, causa do seu tombo para a frente.


André Lazarra, Consultor Linguístico


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Provérbios Musicais, de André Lazarra

O primeiro trabalho de Lazarra pós "Emerge-Me!", projecto que visava fazer emergir a carreira musical do nosso caro Consultor Linguístico, terá por nome "Provérbios Musicais" e sairá em direcção ao mundo no dia 22 de Fevereiro do ano de 2017.
A este importante marco André Lazarra oferece algum contexto, na forma de uma breve introdução explicativa:

"O que é um provérbio, senão uma máxima à qual podemos recorrer com segurança? Algo intrincado na cultura de um povo, algo que o caracteriza e às vezes protege, um saber que se mantém inalterado e que perdura ao longo dos séculos. Um provérbio musical não excede as suas modestas competências, a sua razão de ser sendo de certo modo uma segurança enviada ao ouvinte que, ao prestar atenção a estas humildes composições, encontrará nelas um pano de fundo para uma determinante reflexão capaz de dar origem a novos e importantes saberes. As melodias são vastas e evocam vários cenários diversos aos quais apenas o ouvinte poderá dar continuação. Talvez seja esta abstracção que confere ao conjunto o título de "Provérbios", que ditos comportam igualmente um largo alcance. As músicas, como dizia Townes Van Zandt, uma vez lançadas são da posse do mundo e estes Provérbios Musicais, assim que são ouvidos por aquele que não os compôs, pertencem-lhe também, integrando assim uma instituição infinitas vezes superiores àquela que os criou, a Sociedade".

Obrigado Lazarra. A obra será lançada via Bandcamp, num espaço diferente daquele que ocupará até ao fim dos dias o projecto anterior. Nos dias seguintes dedicarmo-nos-emos à produção de cada um dos elementos constitutivos do trabalho e à criação desta página nova. Não existirá qualquer single, pois o álbum apenas faz sentido quando disponível na íntegra.

A Setlist:

1. Numa Rua Escura de São Petersburgo (Banda Sonora de Um Acto Miserável)
2. Esquartejando José Cid
3. Na Dacha
4. Abre-Se A Válvula do Azedume
5. Vislumbrando Viçosidades
6. Elogiando Prokofiev
7. O Petisco
8. O Mentecapto
9. O Delito
10. A Tundra
11. Um Criminoso Deambula Entre Pares
12. Furgoneta
13. Um Vaso de Flores
14. No Jardim do Velho Wang

Tempo Total: ~52 Minutos


Lenocínio Baptista, Advogado Estagiário



domingo, 22 de janeiro de 2017

Prémios César-Editorianos: Resultados

Os resultados dos Prémios César-Editorianos são hoje conhecidos, no momento em que qualquer deliberação extra se vê incapaz de contribuir com algo para a discussão. Os resultados são finais e o resultado (pedimos desculpa pela redundância mas por questões de celeridade fomos incapazes de encontrar uma outra forma de colocar a questão, de novo pedindo desculpa pela redobrada redundância, desta vez contudo mais facilmente evitável, dado que a palavra assunto, como vê, nos habita a mente) de reuniões sucessivas onde vários temas, opiniões e insultos foram lançados pelos quatro cantos da mesa. Quantas falácias foram dirigidas a outrem! Quantas amizades ruíram dogmaticamente quando uma categoria era discutida, tendo mais tarde sido reconstruídas no decorrer de um novo assunto. Como de costume, os objectivos da empresa que não são remunerados e que se atingem através de uma discussão calmamente planeada (em acta!) são aqueles onde a estrutura da César Editoras ameaça implodir e a Razão, pilar fundamental da acção César-Editoriana, é vulgarmente agredida às mãos de parvos que se embriagam ao mergulhar de cabeça no seu interminável fluxo de orgulho, não amparado pela vontade mas pela exaustão.

Ora, dado o contexto, tomemos conhecimento dos aguardados vencedores e as razões que lhes concederam esta admirável honra.


Prémio Mais Fascinante Calamidade: Premeia a mais tenebrosa calamidade aos olhos César-Editorianos.

Nomeados:
  • O Vírus Zika
  • Os Jogos Olímpicos de 2016
  • A eleição de Donald Trump
  • Crise dos Mísseis Norte Coreanos
  • Canonização de Madre Teresa de Calcutá
Vencedor: Canonização de Madre Teresa de Calcutá.
A colocação de Madre Teresa de Calcutá num patamar tão elevado de quase imaculação revela a desagradável opção da Igreja Católica em enveredar de novo pela ignorância, ao omitir claramente da sua deliberação as verdadeiras práticas realizadas pela Madre Teresa. Com efeito, muitas foram as ocasiões em que perguntámos a cidadãos portugueses católicos o que achavam do trabalho de Madre Teresa de Calcutá. Muitos não sabiam exactamente o que ela havia feito e essa parece ser a intenção do Vaticano, que se protege ao não promover factos, mas situações tão específicas e não representativas da realidade como o milagre necessário à canonização que levou a albanesa ao patamar de Santa, a cura de um tumor a uma mulher indiana através da colocação de um medalhão contendo a fotografia da milagreira, apesar de ter sido avançado pelo staff médico que o tratamento normal de um cancro o havia removido. Para qualquer católico, para o nível do seu raciocínio e da sua gnose, qualquer conquista cientifica deverá certamente poder apenas ser um milagre. Da mesma forma o relatório da cura foi prontamente confiscado pela organização criada pela santificada. Acresce a este obstáculo claro uma série de más práticas, como o baptismo de doentes às portas da morte sem o seu consentimento e de forma secretiva, a inexistência de cuidados hospitalares ou conhecimentos técnicos suficientes independentemente dos milhões de dólares que a sua organização de caridade recebia e, decorrente deste último ponto, a clara e flagrante promoção do culto do sofrimento. Para Madre Teresa, o sofrimento era uma forma de aproximação a Deus, pela semelhança na dor sentida por Cristo na Terra (" this terrible pain is only the kiss of Jesus — a sign that you have come so close to Jesus on the cross that he can kiss you "), e não poderia nunca deixar de ser visto como uma coisa boa. 
Como ninguém parece tomar conhecimento disto não compreendemos ainda. 


Prémio Excelência Musical: Premeia o mais brilhante músico de todos os tempos.

Nomeados: Todos os músicos existentes, vivos ou mortos.

Vencedor: Tom Waits
Estaremos quase correctos ao assumir que Tom Waits não se enquadra num género apenas, mas em vários e num muito específico, "Tom Waits". Qualquer tentativa de o imitar poderá ser a última cartada em qualquer carreira musical digna. Ao longo dos tempos Waits sempre manteve o seu caminho e, como disse, quando olhava para trás via pessoas segui-lo. A sua originalidade, a sua inovação gritante resultante do perfeccionismo associado aos sons que incessantemente buscava e tornava em instrumentalizações subtis e fabulosas, a sua genialidade na composição e mestria dos instrumentos, o facto de ter evitado cair em fórmulas como Bob Dylan ou Bruce Springsteen mantendo sempre a sua vontade no centro da criação, a ausência da necessidade de vender e lançar álbuns constantemente, em vez disso lançando ora um a cada sete anos, ora 4 no mesmo período (1999-2006, embora o Brawlers valha por três, o que faria 6 álbuns), a sua destreza teatral no cinema e no palco, a sua poesia diversa e evocativa e, por fim, a sua humildade enquanto pessoa e facilidade no trato de outras revelam que não há, nem nunca houve, ninguém tão conceituado como o único e singular Tom Waits. No entanto as pessoas cingem-se ao seu primeiro álbum e ao "One From The Heart" que, sendo fantásticos, não são suficientes para compreender tudo aquilo que o artista significa.


Prémio Mais Marcante Condenação: Premeia a sentença mais lustrosa do ano em questão. Têm-se em conta a importância do condenado e a dureza da pena.

Nomeados:
  • Hisséne Habré
  • Oscar Pistorius
  • Otto Warmbier
  • Radovan Karadzic
  • Reinhold Hanning
Vencedor: Hisséne Habré.
Num momento de plena comoção política em África (grave constante), em países como a Gâmbia e o Congo, nenhuma condenação parece mais relevante do que uma onde um homem-forte de um regime ditatorial do continente enfrenta os crimes que cometeu. 


Prémio Nobre Avanço Científico: Premeia a mais nobre causa, descoberta ou destreza técnica.

Nomeados:
  • O Radiotelescópio de Guangzhou
  • Gothard Base Tunnel
  • Ondas Gravitacionais
Vencedor: Ondas Gravitacionais
Na César Editoras conhecimentos de Física são geralmente nulos. No entanto conseguimos entender a importância desta descoberta e sobrelevá-la quando comparada às restantes. Nada mais interessante é do que conhecer aquilo que jaz para além do nosso planeta, pois nos recantos do cosmos encontram-se as mais fascinantes perguntas que o ser humano conseguirá alguma vez colocar, sobre si ou sobre aquilo que o ultrapassa. Como disse uma vez André Lazarra: "O Espaço é a coisa mais interessante do Universo". A causa é nobre e a descoberta abre uma nova e importante área de investigação.



Prémio Posição de Força: Premeia a inflexibilidade face a pressões exteriores injustas, na perseguição da manutenção da ordem e estabilidade política.

Nomeados:
  • Alexandr Lukashenko
  • Bashar Al-Assad
  • Kim Jong-Un
  • Viktor Orbán
  • Vladimir Putin
Vencedor: Vladimir Vladimirovich Putin
Poucos são aqueles que demonstram a sua força de forma tão distinta como Vladimir Putin. A sua acção, soberbamente unilateral, revelou-se sempre apenas motivo de palavreado e não de reacção. Ninguém ousa tocar em Putin e, num mundo crescentemente confuso onde a informação avança demasiado rápido, a sua figura de força e de acção parece tanto apelar aos ocidentais como aos povos de leste, que o vêm como um líder poderoso e capaz, duro mas justo. A sua influência mantém-se imperial dentro e fora do país, apesar de ser constantemente criticado e pressionado pela opinião pública. Embora a economia russa se tenha ressentido com as sanções que lhe foram impostas, a estabilidade da sua presidência parece pouco ou nada afectada. Aliás, com Trump na presidência dos EUA, é provável que estas sanções sejam aligeiradas, embora acreditemos que Trump não compreende ainda na totalidade o antagonismo natural existente entre o país que lidera e a Federação Russa. Não há homem que faça frente ao Deus russo! Não será Putin o homem mais poderoso do mundo?

Assim se completa a primeira edição dos Prémios César-Editorianos.
Não concorda com os galardoados? Está bem.

Que comece a labuta dos novos candidatos,


César Editoras

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O Que É A Justiça Restaurativa?

O que é afinal a Justiça Restaurativa e para que precisamos dela?

Na generalidade o cidadão português comum não possui os conhecimentos ou o intelecto que lhe permitam uma aproximação notável à noção de Justiça Restaurativa. Num primeiro olhar parecer-lhes-ia a restauração de um direito, um bem, um estatuto, orientada pelos critérios definidos na lei. É facto que a generalidade da população portuguesa efectivamente não possui conhecimentos aprofundados sobre todas as matérias à sua disposição, pelo que a utilização da lógica é recorrente. A César Editoras é uma forte apologista da lógica e da razão e sobre elas apoia o seu patrocínio do genocídio de fundamentalistas religiosos. Contudo a recorrência à lógica poderá iniciar uma trajectória dirigida à mediocridade, se meramente aliada a conhecimentos exíguos. Assim sendo, notando quão provável é a probabilidade da opinião da maioria estar errada, aferimos que, também em regime probabilístico, a Justiça Restaurativa nada tem a haver com esta aproximação torta realizada pelo povo português.
Como determinará a César Editoras, sem qualquer noção sobre esta matéria, o que é afinal a Justiça Restaurativa? Em primeiro lugar interprete-se o que é Justiça. Este conceito é-nos conhecido: Justiça é a vontade permanente e constante de dar ao outro o seu direito. E o que é Restaurativa? Restaurativo é aquele item que restaura, que devolve, que restitui algo material ou imaterial. Ora, daqui se compreende as intenções benignas do nosso leigo povo português. Seria lógico seguir estes caminhos, mas estaríamos certamente a descer à toca do lobo, a dar a mão de bandeja à menina dos cinco olhos, a mergulhar no escuro ou  a crucificar sangrentamente a nossa gnose. A César Editoras nunca poderia apoiar esta posição, embora as suas opiniões muitas vezes se apoiem em critérios racionais. Apenas assim justifica o seu patrocínio assumido do genocídio de fundamentalistas religiosos.
Regressamos portanto à pergunta à qual nos propusemos responder, o que é afinal a Justiça Restaurativa e para que precisamos dela? Não fazendo sentido ingressar num raciocínio rigoroso, faz sim sentido ingressar num raciocínio livre e lacunoso que nos permita tentar a nossa sorte. Em caso de falha digna de elevado escárnio, faça-se a primeira justiça e restaure-se a dignidade da pessoa humana!
A Justiça Restaurativa é afinal uma forma de Justiça. Em relação a este ponto de partida possuímos, contudo, ainda algumas reservas. Incide sob as pessoas humanas e colectivas, sendo estas últimas constituídas pelas primeiras. A restauração é indubitavelmente um sector importante na economia portuguesa, sempre associada aos crescentes números do Turismo. Certo é que grande parte dos turistas que visitam grandes polos económicos portugueses são reles. Não só por serem espanhóis ou irlandeses. Há, espantai-vos, turistas reles de nacionalidade alemã, austríaca e restantes países nórdicos europeus. A culpa disto apenas incide sob aqueles que impediram a criação bem-intencionada de um povo supremo. Se tal tivesse sido permitido, seria razoável pensar numa baixa pombalina recheada de verdadeiros turistas e não de hippies de casa às costas. Aliás, talvez o turismo da Europa para a Europa nem uma realidade seria, pois todos viveríamos (aqueles que viveriam livres e não dependentes do seu trabalho) sob a tutela de um verdadeiro e eficaz governo central, distribuidor da nacionalidade e guardião da soberania.
Poisemos de lado este complicado dossier. Retornemos à restauração. O que mais poderá significar esta palavra? Ora vejamos.
Quando nos dirigimos a um estabelecimento considerado "na moda" ou de qualidade confirmada ao longo dos anos exigimos algo que se aproxime das nossas expectativas. Justiça Restaurativa é exactamente isso: Uma justiça por parte do restaurante para com o cliente, isto é, uma relação estreita entre aquilo que o estabelecimento  aparenta ser e aquilo que realmente é. Contudo, não se enganem, a Justiça Restaurativa não se cinge unicamente ao cliente, que segundo a lei é o único e legítimo detentor da razão. É certo que o estabelecimento que preza pelo seu bom funcionamento requer sempre um staff capaz de satisfazer o cliente e de ser satisfeito! Um staff coeso que se sinta respeitado pelo patrão irá mais facilmente agradar aqueles que serve. A satisfação do cliente pode muitas vezes decorrer da boa relação que o empregado mantém com o empregador.
Assim se coloca a questão: O que é, afinal, um staff coeso e capaz?
Para responder a esta questão analisámos subjectivamente vários restaurantes que nos pareceram fabulosos no aspecto considerado e cuja longevidade nos leva a crer que as suas qualidades são apreciadas pelos demais pacóvios e verdadeiros conhecedores.
O que salientar? Saiba-se, de imediato, que as mais importantes características apresentam um carácter geral e não um específico fetichista. Comecemos e terminemos hierarquicamente desordeiramente.
Fulcral pareceu-nos, pela observância dos estabelecimentos analisados,  a existência de um indivíduo de etnia nitidamente afastada do restante grupos. Nada mais emana diversidade do que o medo e confusão provocados por um indivíduo que parece fora do lugar ao cliente. Claro, note-se, que a mentalidade do cliente tanto origina sentimentos xenófobos como de elogio, pela integração do indivíduo, por certo. Alguns clientes não irão reparar nesta qualidade exímia do restaurante e não reconhecerão os seus esforços na prossecução da integração de indivíduos mistos nas suas estruturas. São apelidados de racistas pela César Editoras, que consegue tolerar a diferença e identificá-la pela via do medo.
Afastando-nos de questões raciais, encaminhamo-nos para um factor tomado negativamente que nos pareceu transversal a todos os estabelecimentos, a ausência da empregada brasileira. "Oh César!" direis vós alegando contradições e sustentando-as com a primeira asserção deste parágrafo. Sobrelevamos a natureza desta opinião, que não se prende com quaisquer questões raciais, mas tão e somente de senso comum que, como dizia o Camilo, é a coisa menos comum na condição humana. Talvez explorar esta questão a fundo possa tomar contornos irreversíveis que nos certamente colocarão num patamar de ódio não fundamentado. Aqueles que compreendem aquilo a que nos referimos, a priori ou a posteriori, são aqueles a quem esta mensagem é verdadeiramente dirigida.
Várias outras manchas nos ocupam a mente. Quais escolher? Quais sobressaem que nem vigas do peito do soterrado?
De forma inflexível repudiamos qualquer possível visão da cozinha por parte dos clientes. Em certos negócios será impossível preveni-lo e, nessas situações, a visão recai sobre a curiosidade e vontade do cliente. Mas, quando um grotesco painel de vidro separa o visitante do visitado, convidando o primeiro a entrar no mundo da confecção conduzido pelo segundo, um incómodo tomado por improvável assume uma importância inegável, aliás, incontornável! Na sociedade mesquinha e hipocondríaca em que habitamos, na qual o mais irrelevante estudo ganha a atenção dos milhões, ninguém deverá supor que o cliente deseja ser assediado pelas mãos hipoteticamente sujas daquele que cozinha. Quantos olhares serão desviados para o seu prato, quando deviam repousar naqueles que mais o merecem? Quantos suores serão lançados quando o responsável pela dolorosa descobrir os terrores pelos quais os ingredientes passam antes de tomarem uma forma aceitável, correspondente ao treinado empratamento? A ignorância é uma bênção, pois permite ao ser racional aproveitar a refeição pela qual pagou sem sofrer no momento. Se algo correr mal, ocorrerá após o pagamento e tanto ele será a vítima, como a retrete em que será obrigado a sentar-se. Assim se afastam algumas mazelas psicológicas
Em último lugar, conscientes da insuficiência destes quatro pontos que deverão ser completados pela reflexão do leitor, encontra-se a pior característica pela qual um restaurante se poderá destacar, a presunção. Quão horrível é aquele homem careca que se mete num fato saloio e que nos indica aquilo que se encontra no prato que nós mesmos pedimos, que nos tenta dar a entender que não o merecemos, pelo seu alegado e falso teor singulativo. Ide embora! Não é a sua conversa que procuramos e a opinião que formularemos sobre o restaurante não será agora certamente a sua! Levantamo-nos sorrateiramente das cadeiras e usamo-las como dispositivo do terror, cujo singular alvo são as costas voltadas do agora enxotado chefe de mesas. Absorto e desprevenido sofre com a destruição de uma desnecessariamente cara cadeira nas suas vestes outrossim exageradas. A cara cadeira é despejada totalmente na sua coluna, de modo a que a sua pobre cara se altere com esgares de desagrado e as farpas físicas e espirituais lhe assentem no âmago ferido e no cabelo puxado para trás, cuja tinturaria não poderia agora ter qualquer outra cor que não a encarnada. E que bem lhe assenta! Nenhuma outra tão bem lhe revestiria a idade! Com o desprezo que a presunção gera entornámos-lhe a mais baixa nota no tecido rasgado e ordenámos-lhe que se lavasse, sabendo bastante bem que o golpe realizado o deixara num estado totalmente indelével que se estenderia em direcção à intemporalidade. De forma um pouco infeliz alguém mencionou um golpe de estado, mas rapidamente foi silenciado pela ameaçadora presença de uma cadeira ainda não machucada.

O que é afinal a Justiça Restaurativa? Em que mãos se encontra e com que legitimidade é exercida?


César Editoras